Eu me levantei. não queria, mas pus um pé de cada vez no chão. O contato com o chão gelado só me fez querer deitar de novo e voltar a dormir. Mas eu não podia fazer isso. Estava no terceiro ano, tinha que me esforçar mais na escola.
Era mais fácil dizer do que fazer, mas lá estava eu, em pé, saindo do banheiro já com meu uniforme. Arrumei o cabelo na cozinha. Não no banheiro, pois eu não gostava muito de ficar me olhando no espelho. Acho o reflexo intimidador. Espelhos apenas servem para me lembrar de tudo de ruim que tem dentro e fora desse corpo. Tomei uma xicara de café preto sem açúcar. Não comi nada, embora minha mãe sempre peça que eu coma ao menos uma maçã antes de começar o dia. Peguei minha mochila, casaco, celular e fones de ouvido, e sai.
No ônibus, peguei meu celular e coloquei música pra tocar. Música era uma das poucas coisas que ainda me fazem me sentir bem e viva. Na verdade, qualquer forma de arte me dava um pouco de alegria. Eu gosto de desenhar. Faço isso desde os doze anos, na época em que eu e meu irmão tentávamos superar um ao outro em tudo. Quando nós fazíamos "competições" de desenho, eu sempre ganhava. Agora, com dezessete, não me considerava uma artista profissional, mas sabia que era muito boa.
De tão imersa que estava na música tocando em meus ouvidos, eu quase perdi o ponto. Mas logo me toquei que a escola se aproximava e me levantei para descer do ônibus.
E lá estava. O inferno. Eu entrei, desanimada, mas tentando me acalmar. "São apenas cinco horas", pensei. "Cinco horas e você sai daqui".